CPI retoma sessões e ouve reverendo que negociou vacinas em nome do governo


Após pausa de duas semanas em função do recesso parlamentar, a CPI da Covid no Senado retoma os trabalhos nesta terça-feira (3) com foco mantido nas investigações sobre as negociações de vacinas contra o coronavírus.

Nesta manhã, os senadores vão ouvir o reverendo Amilton Gomes de Paula, fundador de uma entidade privada chamada Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah).

O reverendo é uma peça-chave para mostrar como o governo brasileiro negociou a aquisição de imunizantes por meio de intermediários. No caso de Amilton Gomes, ele negociava a venda de 400 milhões de doses da AstraZeneca.

A oferta se dava em meio a uma escassez mundial de vacinas e mesmo após a própria farmacêutica ter informado que a venda do imunizante se daria apenas por meio de contratos diretos, sem intermediários.

A Senah é uma organização evangélica fundada em 1999, com sede em Águas Claras (DF), região próxima a Brasília. Após a fundação, a entidade desenvolveu projetos de ação sociocultural no Distrito Federal e em cidades do entorno. Com esse histórico – e de maneira ainda inexplicada –, a Senah ganhou autonomia do governo para negociar a aquisição de vacinas.

Conforme mostrou o Jornal Nacional, o então diretor de Imunização do Ministério da Saúde Lauricio Monteiro Cruz deu aval para que o reverendo e a Senah negociassem a vacina AstraZeneca em nome do governo brasileiro com a empresa americana Davati Medical Supply.

O reverendo teve reuniões no Ministério da Saúde com Lauricio e com o então secretário executivo Elcio Franco – que concentrava, no ministério, as decisões sobre a compra das vacinas.

E-mails de março deste ano indicam que o reverendo propôs a compra do imunizante a US$ 17,50 por dose, valor três vezes mais caro que os US$ 5,25 pagos pelo ministério em janeiro a um laboratório da Índia.

Ministério: portas abertas ao reverendo

O nome de Amilton Gomes foi apresentado à CPI pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti, que diz ser vendedor da Davati. Conforme relatou, a empresa também chegou ao ministério graças à ação do reverendo, que abriu as portas da pasta para as negociações com a empresa.

Outro vendedor da Davati, Cristiano Carvalho também citou o reverendo em seu depoimento à comissão e reforçou a versão de que foi ele quem iniciou as tratativas com o governo brasileiro. Ainda de acordo com Carvalho, o reverendo também tentou expandir os negócios com o Paraguai e a Arábia Saudita.

“No primeiro momento, eu fiquei totalmente incrédulo, porque o posto de reverendo, vamos dizer assim, não é uma coisa muito comum”, afirmou Carvalho, que também participou de reunião no Ministério da Saúde.

As negociações entre o governo brasileiro e a Davati não se concretizaram – e acabaram virando caso de polícia. Dominghetti acusou o então diretor de Logística Roberto Dias de cobrar propina no valor de US$ 1 por dose do imunizante. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar a acusação.

Até o momento, a Davati e seus representantes no Brasil não indicaram de onde viriam essas supostas milhões de doses, já que a Astrazeneca dizia não trabalhar com intermediários. Nenhuma prova foi apresentada sobre a existência real dessas vacinas.

Adiamento

Inicialmente, o depoimento do reverendo Amilton Gomes estava previsto para o dia 14 de julho. Ele, no entanto, apresentou um atestado médico solicitando o adiamento da oitiva.

Na véspera, o reverendo também acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo para que fosse reconhecido o direito de permanecer em silêncio diante de perguntas que pudessem incriminá-lo. O pedido foi acatado pelo presidente da Corte, ministro Luiz Fux.

Dessa forma, conforme a decisão de Fux, o reverendo pode se recusar a responder perguntas sobre fatos que o incriminem, mas terá de dizer a verdade sobre fatos dos quais foi testemunha.


Do G1

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